Ser tão

AISLA PANKARARU – ANTÔNIO JOSÉ DE DEDÉ – DESALI – INÁCIA TEREZINHA – FRANCISCO GRACIANO – GERALDO CABUETA – JASSON – JERÔNIMO MIRANDA – RATINHO VÉIO – ZÉ BEZERRA
23.03.2024 a 27.04.2024

SER TÃO

 

 

Laymert Garcia dos Santos

 

 

O traço comum a quase todos os artistas reunidos nesta exposição é que eles figuram seres existentes em mundos paralelos, habitantes de espaços-tempos outros, aquém ou além da realidade ordinária, mesmo quando se encontram dentro desta. Portanto, o que aproxima esses artistas é a capacidade ou o dom de possuírem a chave de acesso, de conhecerem a abertura para os mundos dessas criaturas que eles trazem até nós.

 

Nesse sentido, chamo, de saída, a atenção do espectador: Veja bem esses seres, note como vão surgindo, tomando forma, ganhando consistência; perceba sua singularidade, expressa em detalhes sutis ou inusitados; extraia sua figuração incomum inumana, ou não-humana, seu caráter híbrido, humano-animal; realize sua manifestação fantasmática, ou sua presentificação como deuses ao mesmo tempo absurdos e inteligíveis.

 

Assim, o que mais surpreende, e encanta, nesse conjunto de obras – parte da coleção de Pedro Olivotto – é, primeiro, a própria existência desses mundos paralelos coabitando num mesmo chão, o chão do Sertão, o  enorme território que se estende do norte de Minas Gerais até o Ceará, passando por regiões da Bahia, de Alagoas, de Sergipe, de Pernambuco, de Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte. Tais mundos são indissociáveis dessas terras, de suas gentes, de suas vidas – é lá que eles existem… Mas a surpresa e o encantamento se intensificam quando nos damos conta da riqueza e da variedade da manifestação. Como se houvesse efetivamente um solo comum, caracterizado pela prevalência imperiosa do imaginar mundos; mas como se cada artista inspirasse e expirasse um determinado estado, uma determinada atmosfera, uma determinada condição, uma determinada aparição, uma determinada condensação, em suma uma determinada sintonia das vibrações que percorrem essas terras e dão vida e grandiosidade a esses seres, a esses mundos, a esses mundos de seres.

 

Daí a constatação: o que se expõe é o imaginário superlativo das gentes da terra – o Sertão é SER TÃO.