RICARDO HOMEN E LORENZATO: OFÍCIO E AMIZADE

Lorenzato e Ricardo Homen
08.11.2023

RICARDO HOMEN E LORENZATO: OFÍCIO E AMIZADE

 

Ricardo Homen e Amadeo Lorenzato pavimentaram suas trajetórias por caminhos diferentes. Ricardo teve sua formação com algumas das figuras-chave da arte brasileira da segunda metade do século XX, como, por exemplo, Amílcar de Castro. Lorenzato foi um autodidata com raízes na arte popular. No entanto, os caminhos de ambos se cruzaram: o convívio e reciprocidade entre ambos – que foram por muito tempo vizinhos – cultivou uma longeva amizade, cujo ponto de contato era um apreço especial pelo ofício do pintor e todo repertório de recursos oferecidos pelos seus instrumentos e materiais. Os dois procuram tirar partido de variações de pinceladas que vão das linhas marcadas, como que feitas pelo cabo do pincel, criando ritmos e padrões àquelas outras que criam planos lisos e chapados: a tinta, permitindo-se diferentes texturas resulta em variações de luminosidade, cores mais abertas, outras mais fechadas, cores que, variando sua espessura e o seu modelado (isto é, sua materialidade e não uma gradação de tons) resultam em luzes mais abertas ou compactas. Devemos, aliás, considerar que a pintura de ambos começa nos próprios materiais que empregam: Lorenzato nos seus instrumentos e Homen na fabricação dos chassis, que determinam inclusive o aspecto tridimensional de algumas de suas pinturas-objetos.

Mas não é apenas essa investida nas qualidades plásticas em si que aproxima os dois: a temática de Lorenzato e a geometria de Homen partilham de um lirismo e, por vezes, da paleta de cores. As pequenas “fachadas” presentes em algumas abstrações do último, por vezes incorporando tons terrosos dialoga com os casarios, vistas e recortes de uma paisagem urbana registrada por Lorenzato, que foi se transformando, substituindo o pitoresco das casas antigas pelos prismas de uma nova arquitetura. O singelo habita a obra dos dois artistas, uma elegância que faz suas grandes descobertas, ao olhar sensivelmente os seus pequenos achados.

 

Guilherme Bueno