A Galeria Horizonte tem o prazer de apresentar a exposição da pintora e desenhista paulistana Adriana Rocha. Sua trajetória teve início na década de 80 e abrange mais de 60 exposições em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e em cidades da Argentina, Portugal e Estados Unidos além de uma série de projetos de arte pública .
Habitar o limite celebra o retorno da artista à prática do desenho com uma série recente e inédita de grafites sobre papel montados cuidadosamente em caixas de acrílico. Também fazem parte da mostra três “livros-pintura” feitos a partir de interferências com tinta acrílica e de textos sobre impressões de imagens em lona.
Os desenhos, realizados a partir de fotografias feitas pela própria artista, revelam a passagem do tempo e a tentativa de capturar um momento, um instante num processo artístico minucioso e lento no fazer. Nos livros percebemos uma forte carga de memória, numa espécie de diário interior onde cada imagem é impregnada de camadas que imprimem a sensação de desgaste da figura como um tempo que passou, uma lembrança, uma história. Neles Adriana usa os mesmos princípios formais que desenvolveu em suas telas mais atuais: “Sempre trabalhei com imagens pré-existentes, que ficam depositadas na memória e depois se esvaem. Fascina-me a condição humana da impermanência”, diz a artista.
“Se o ato de habitar corresponde à ideia de morar, é porque, antes, corresponde à ideia de ocupar, à ideia da ocupação de espaços, e, os espaços, em certa medida, podem ser os lugares ocupados pelos nossos corpos. Neste caso, porém, determinar a exatidão de seus limites é tarefa que nos leva a múltiplas respostas, pois, cada um deles não há de ser definido apenas pela extensão de nossos braços ou pela pele que nos reveste. Podemos, talvez, entender que as distinções de alguns desses limites estejam nos olhares, caso em que as distâncias são marcadas por fixações definidas, espécies de freios domesticados por hábitos, ou por imposições. Assim, tanger essas bordas eleitas por nós mesmos ou pelos outros, pensando em suas efetivas aproximações físicas, para depois igualmente habitá-las, é, ao que parece, uma busca interminável que, provavelmente, só há de se configurar em traduções que possam conter a qualidade concreta e formal de uma idealização. São realidades transformadas, porque desejadas. Com isso, os céus e os mares, que a princípio apontam para o infinito, tornam-se finitos quando os flagramos, os definimos e os recortarmos, para neles, aí sim, fixarmos nossas prováveis moradas; tornam-se limites passíveis de serem tocados, limites que podemos inserir nos lugares onde o habitar, agora, corresponde de fato à ideia de morar.”
Carlos Avelino de Arruda Camargo – Julho de 2012