A AM Galeria tem o prazer em receber a exposição individual do artista Bruno Novelli a partir de 08 de junho. Para a exposição Bruno preparou cerca de 15 trabalhos [pinturas sobre tela e linho], algumas inéditas, além de três pinturas em grande escala site specific desenvolvidas especialmente para o espaço da galeria.
A exposição traz trabalhos desenvolvidos desde 2010 e é uma pequena mostra da produção do artista nessa última década. Aqui é possível mergulhar no universo do artista entre Diagonais com Beringelas, Bananeiras, Carrancas, Cipós, Cobras, Paineiras, Espectros Eletromagnéticos, Budas, Luas, Planetas, Feras e, em um último exercício, na mística da natureza e a relação do corpo, do sexo e do espírito.
O Delírio-tropical utópico de Bruno não é nada inocente. A natureza e a cultura, dualidade moderna primordial, são ressignificadas: uma não pode mais ser o objeto de apropriação pela outra, e sim desobediência e insubordinação, balbúrdia produzida por entidades livres.
Apesar dos trabalhos desta exposição enquadrarem-se na pintura como linguagem, é importante compreendê-los direcionando nossa atenção para onde as pinturas apontam, pelos caminhos de pensamento que percorrem em uma perspectiva cultural-natural. Uma certa visão que se multiplica. O sexo restabeleceria, em alguma medida, a admirável complexidade das folhas, árvores e dos invertebrados, carrancas, pedras, flores, frutas e Budas que convivem entre si. Signos de exuberância alegórica que não obedecem a uma narrativa linear. Não temos aqui uma cena e sim uma experiência dos sentidos.
Na prática pictórica é visível a paleta que atravessa toda a exposição com o uso rigoroso de preto, verdes e rosas – olhe para o rosa, aquele rosa cor de boto-cor-de-rosa, cuja pele macia não invento, mas descrevo (talvez o mesmo que supostamente nadou entre nossas coxas quando escrevia escondido para você). Degradês, sombreados, reflexos luminosos de pedras preciosas. Energia, irradiação. Muito sol. A lua – presente em quase todas as obras – tem um brilho que é reflexo da luz do sol. Da mesma forma que os planetas, ela não tem luz própria.
Como as pinturas provocam um campo mais aberto? Na criação reside uma possibilidade de recurso imaginativo. Uma ficção que não passa por narrativas de apocalipse, radiantes ou cintilantes, mas que obedece a uma lógica diferente. Em nome da nossa sobrevivência, precisamos compreender tudo? Este texto tenta ecoar conversas em favor do prazer da confusão e do emaranhado de muitas fronteiras.
A pintura se estrutura como se fosse colagem estabelecendo um diálogo com a história da arte. Um aspecto surrealista no qual legumes sobrevoam a planta tropical e melancias partidas surgem no meio da mata com carrancas. O artista usa uma ampla gama de imaginários e símbolos que transitam entre o tropical, o popular, o místico e o ficcional alternando sua prática entre o desenho e a pintura. A articulação entre associação e reciclagem de imagens têm forte presença na obra de Novelli que, não satisfeito nesse exercício de sobrepor elementos retirados de tantos lugares – inclusive de outras obras de arte e da literatura – constrói de maneira intuitiva espaços oníricos em profundidade, um sonho que vai desde o encontro da imagem do Buda Primordial aos raios eletromagnéticos das conexões cerebrais de vida e morte. Silhuetas de Matisse, plantas de Tarsila, rasgos de feras atravessando as paredes, bromélias gigantes, grafismos japoneses, geometrias eletrizantes que se transformam em pinturas hipnotizantes passíveis de alguma revelação do olhar. Novelli nos convida a seguir essa viagem.
Bruno nasceu em Fortaleza [1980], cresceu em Porto Alegre e hoje vive e trabalha em São Paulo.
Nos últimos anos, participou de exposições individuais em Denver (EUA), Bogotá (Colômbia), Copenhagen (Dinamarca), São Paulo e Milão (Itália). Entre as principais mostras coletivas, destacam-se: Desconstruindo Gigantes, Instituto Goethe, Porto Alegre (2005); Persistência, Museu de Arte Contemporânea de Porto Alegre (2006); Transfer, Museu Santander Cultural, Porto Alegre (2008); Mitovídeos, MIS – Museu da Imagem e do Som, São Paulo (2014) e Barro del Paraiso, Fundacion OSDE, Buenos Aires (2012). Cosmovideografias Latinoamaricanas, Centro Nacional de Las Artes, Cidade do México (2013).