Duração Permanente

Livia Paola Gorresio
25.09.13 a 26.10.13

 

“O quadro não é simplesmente sua cor, sua forma ou seu sentido, mas é uma idéia imbuída em uma entidade cujo significado transcende qualquer das suas partes.”
Mark Rothko [Dvinsky, Rússia, 25 de setembro de 1903 – NYC, 25 de fevereiro de 1970]

 

A AM Galeria de Arte tem o prazer de apresentar a primeira exposição individual da artista Livia Paola Gorresio em Belo Horizonte. Duraçao Permanente é composta por sete obras, construídas com lápis, madeira, nanquim, tinta acrílica e aço inox. A exposição mostra a produção de um conjunto que resulta das reflexões sobre a forma. “Estas reflexões encontram paralelos na Teoria de Aristóteles, que a define como idéia, uma espécie única, intuitiva, em uma multiplicidade de objetos”, destaca a artista.

 

A exposição se divide em dois momentos: a paisagem e a sala azul. Na primeira, três trabalhos: “Monte amarelo”, “Acervo” e “Suporte” trazem a paisagem. Em contraposição à racionalidade, o incalculável, a abstração, o pensamento transcendental e espiritual.

 

“Monte Amarelo” no plano do chão, um monte de feno, um monte de pedras, de metais, um monte de ouro. Pedaços repetidos de madeiras pintadas a mão pela artista na cor amarela espalhados no piso da galeria mostram a fragilidade e organicidade da matéria ou daquilo que a madeira pode representar. Ela nunca será montada da mesma maneira duas vezes. Será sempre diferente, como a natureza, mas o que resiste é a ideia da obra, a intenção.

 

“Acervo”, um móvel em aço inox com chapas de madeira coloridas, de cores quentes. Uma espécie de mostruário de cores cuja ordem pode ser alterada e que correm de um lado para o outro. Ao circular a obra, surge um ponto cego, onde somente linhas são vistas, a cor desaparece e se vê o que está do outro lado do objeto-corpo. Um corpo, uma tentativa de organização de uma cartela pessoal da artista que muda de acordo com o ponto de vista. O corpo vivo do público que mexe com outro objeto-corpo-acervo.

 

“Suporte” é uma janela. Uma chapa de compensado naval de cedro pintada de verde exaustivamente pela artista até criar uma superfície o mais lisa possível. Essa chapa corre entre dois perfis de aço inox fixados na parece. Um monocromo, uma paisagem silenciosa, contemplação.

 

Na segunda parte passamos à sala azul, onde três trabalhos conversam entre si: as três chapas de compensado de cedro pintadas de azul [Área Azul], duas balanças em aço inox e madeira [Balança PP 6] e um pequeno desenho de um portal azul [Physis].

 

As duas balanças se equilibram no espaço e convidam o espectador a desequilibra-las, são medidas. Mas de quê? Do corpo do outro, do desejo, da vontade. As três grandes chapas azuis, assim como o monte amarelo, podem ser montadas livremente e é visível a vida do material, que se curva diante da variação de temperatura. É madeira, elemento estrutural de chassis para telas, de telhados, de casas, de camas, de paredes. O desenho do portal azul, “Physis”, é um projeto, uma ligação entre a idéia e a forma, entre o passado e o futuro, o que pode ainda vir a acontecer no espaço. E o azul, cor fria que simboliza o céu, o mar, o infinito, que dilui o limite da forma e que sugere tranquilidade, harmonia e contemplação. O azul é mental.

 

Livia Paola experimenta a matéria e a forma e acredita que tudo é geometria, o átomo, o fractal. Mas sua experimentação que por vezes parece fria e matemática segue um princípio intuitivo e sentimental, uma tentativa de organização do mundo, das experiências humanas, da história da arte e da pintura de paisagem segunda a sua ótica, do nascimento da abstração, do espiritual que há por trás da geometria e da simplificação e redução da forma. Não é minimalista, racional, é emocional. As obras dessa exposição são livres, abertas, são mais que formas, pois mesmo que se deteriorem com o tempo, são eternas, têm duração permanente e podem viver no plano da idéia, na memória de cada um.

 

Emmanuelle Grossi . 25 de setembro de 2013