Vivendo a arte perigosamente sem medo de olhar para baixo, como que atravessando equilibrado sobre um fio preso entre o topo de dois edifícios. O artista plástico Fernando Ribeiro sempre coloca a sociedade em xeque, quando faz do local aonde expõe parte integrante de suas instalações. Isto já aconteceu em sua última individual na Galeria Mônica Filgueiras, em São Paulo e agora se repete em novos formatos, usando do mesmo conceito na AM Galeria, em Belo Horizonte.
Qualquer pessoa que adentrasse o espaço criado por Fernando somente conseguiria conceituar a obra por se tratar de uma Galeria de Arte. As molduras, os móveis que seriam complementar aos trabalhos em uma loja de decoração tornam-se tão essenciais quanto as peças que os circundam dando a instalação uma inteligente leitura critica e irônica. O mesmo não ocorreu com o “Urinol do Duchamp”?
Nelson Leirner
A AM Galeria realiza a primeira exposição de 2007, depois da mudança da galeria, em abril deste ano, para um espaço mais contemporâneo, excepcionalmente convidativo. A grande atração, desta vez, é o artista plástico paulista Fernando Ribeiro, que apresentará, a partir de 28 de junho, pérolas de sua mais recente produção.
É a primeira vez que o artista, de 50 anos, expõe em Belo Horizonte. Ele, que não economiza inventividade para dar vazão à sua pop art, vai apresentar 17 instigantes obras feitas exclusivamente para a mostra na AM Galeria, que se chama “Amigo Urso e seus Amigos”, e poderá ser visitada até 11 de agosto.
Na concepção de Nelson Leirner, explicitada em seu texto de apresentação da mostra, o artista plástico Fernando Ribeiro sempre coloca a sociedade em xeque quando faz do local aonde expõe parte integrante de suas instalações. “Isto já aconteceu em sua última individual na Galeria Mônica Filgueiras em São Paulo e, agora, se repete em novos formatos usando do mesmo conceito na AM Galeria, em Belo Horizonte.”
Leiner observa que todo visitante que faz uma incursão num espaço concebido por Fernando Ribeiro somente consegue conceituar a obra por se tratar de uma Galeria de Arte. “As molduras, os móveis que seriam complementares aos trabalhos em uma loja de decoração, tornam-se tão essenciais quanto as peças que os circundam dando à instalação uma inteligente leitura critica e irônica. O mesmo não ocorreu com o Urinol de Duchamp?”
Entre as suas obras, o contemporâneo Fernando Ribeiro vai exibir para os mineiros a “Madonna” (Mona Lisa) com um conceito renovado. Ele utilizou 1.500 pequenos ursos para formar uma imagem que remete a uma pintura tridimensional, de 1,70m x 1,70m. “Criei um figurativo que, colocado em tela, faz dupla leitura. Se observada de perto a imagem é confusa, já quando o espectador se afasta, ele vê a Mona Lisa urso e seus amigos, que são representados por outros bichos.
Outro trabalho que é um verdadeiro suporte que se diferencia por um inovador desenvolvimento plástico e conceitual é a caixa de madeira, com a parte frontal em acrílico (78cm x 26cm x 10cm). No seu interior, dezenas de mamadeiras de crianças repletas de ursos em miniatura. Esta obra intitula-se “Declaração Universal dos Direitos dos Ursos” e, conforme explica Fernando Ribeiro, trata-se de uma homenagem ao polêmico artista argentino León Ferrari, autor de trabalhos de conteúdos fortemente políticos.
Fernando Ribeiro também apresentará quatro quadros com molduras douradas (85cm x 1m), onde o figurativismo também se faz presente através do uso de ursinhos de pelúcia formando uma pintura tridimensional. O público mineiro ainda poderá apreciar o trabalho composto por cinco caixas de madeira, de diversos tamanhos, denominadas “Arca de Noé” (duas) e “I love You” (três). Servem para ficar afixadas na parede.
Outra atração será uma instalação que inclui um séquito de ursos acompanhando um enorme Panda, como se estivessem participando do ritual de uma procissão em direção a um berço de criança.
Peças instigantes
Nessa deliciosa empreitada de montar a exposição para a AM Galeria, Fernando Ribeiro incluiu outras peças instigantes como a série de poltroninhas em estampa de oncinha (22cm de comprimento, 10cm de largura e 5cm de altura), além de uma chaise longue, com a mesma padronagem. Sobre todas elas, casais de ursinhos fazendo sexo. “As poltronas são bregas no último grau. Mas é um trabalho bonito e divertido de se ver”, comenta o artista.
Fernando Ribeiro se revela contente pela oportunidade de trazer sua obra para BH. “É mais um lugar para eu apresentar um trabalho que tem um diferencial. Espero que os mineiros gostem, assim como eu gosto muito dos artistas mineiros”, diz.
Estas são apenas algumas amostras da arte que vai invadir o espaço da AM Galeria durante a exposição “Amigo Urso e seus Amigos”. São obras de impacto, de peso, que revelam uma forte ironia social. “Eu aproveito o produto industrializado, o corriqueiro, o ordinário, que as pessoas sequer olham, e os transformo num contexto de arte,” comenta Fernando Ribeiro, ressaltando que essa sua qualificação passa pelos princípios de Duchamp.
Marcel Duchamp, pintor e escultor francês, que gozou de reputação no cenário artístico europeu, é um dos precursores da arte conceitual. Ele introduziu a idéia de “ready made” como objeto de arte.
Carreira
Fernando Ribeiro iniciou sua carreira aos 16 anos, influenciado pelo artista e ilustrador americano Robert Crumb, um dos fundadores do movimento “underground” dos quadrinhos cômicos. Os trabalhos de R. Crumb foram bastante apreciados na cena hippie, tendo deixado marcado nesta década a frase Keep on Truckin´ e os personagens Mr. Natural (um sábio mestre) e Fritz, the cat, um gato boa vida que usa muitas drogas e tem uma vida sexual bastante lasciva.
O primeiro trabalho de Fernando Ribeiro foi na Lynx Film, como arte finalista. Participou do longa-metragem de animação “simplex”, que ganhou o Leão de Ouro, em Cannes. Ao mudar-se para o Rio de Janeiro, trabalhou na Rio Gráfica Editora e no Estúdio Hanna Barbera. Nesta época, estudou com o cartunista Molica, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
Retornando a São Paulo, Fernando Ribeiro assumiu a criação do tablóide infantil dominical do Diário do Povo. Aos 22 anos, desligou-se da área e, somente na década de 90, retomou o desenho e a pintura. No início de 2000, começou a dedicar-se exclusivamente às artes plásticas.
Em 2001, realizou sua primeira exposição coletiva de objetos e esculturas, na Mônica Filgueiras Galeria de Arte. Em 2003 atuou como assistente do artista plástico Nelson Leirner na exposição “Ordenação e Vertigem”, no CCBB-SP. Ainda neste ano, trabalhou como assistente de Leirner na cenografia do Pocket Ópera – Portinari, no Sesc, bem como assinou o figurino da montagem.
Em 2004, foi assistente e produtor da retrospectiva Nelson Leirner “1994 + 10 do Desenho à Instalação”, no Instituto Tomie Ohtake. Participou da montagem da mesma exposição no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Ainda neste ano, fez parte da produção da obra Playground de Leirner para Casa – Poética do Espaço na Arte Brasileira, no Museu Vale do Rio Doce Vila Velha (ES). Também em 2004, assistiu, montou e produziu a exposição de N. Leirner na Galeria Roebling Hall, em New York.
Em 2005 realizou a assistência, produção e montagem da exposição “Zoologia dos Trópicos”, de Nelson Leirner, em Lagos – Portugal. Participou das três edições do SP-Arte, pela Galeria Mônica Filgueiras, em São Paulo.
Exposições
Fernando Ribeiro já realizou exposições individuais na Galeria Mônica Filgueiras, de São Paulo, e na Galeria Coluna Vermelha, do Rio de Janeiro, em 2006.
Participou de diversas mostras coletivas, como: 2
007-Coluna Infinita-Memorial da América Latina-SP; 2007- Tupyexxx Mulder –SP; 2006-1ª Transversal de São Paulo; 2006- Chappel ArtShow – SP; 2006-Mutantes – Espaço Cel 1121 – SP.
E ainda: 2006-Salve a Diferença – Cooperativa dos Artistas – Espaço Piva/SP; 2005- Nem Magritte, nem Mary Poppins – SP; 2005 -Art Brèsil- Deauville- França; 2005 -Exposição Assembléia Legislativa de São Paulo; 2004-Sala Especial N. Leirner Professor/Curador – Instituto Tomie Ohtake/SP; 2004 Verdadeiro ou Falso? – Galeria Anna Maria Niemeyer/RJ; 2004- Telas e Objetos – Casa da Mã/RJ; 2003-Objetos e Esculturas – Galeria Mônica Filgueiras/SP.