A Savassi é Nossa em parceria com a AM Galeria e o Quarto Amado apresenta a exposição “Ruína e Reconstrução” – experiência que pretende ampliar o convívio com a arte levando obras para containers espalhados pela cidade numa tentativa de resgatar a Savassi como lugar de encontro e de espaço para as mais diversas manifestações artísticas.
“Ruína e Reconstrução” conta com 29 artistas de variados suportes e gerações que gentilmente abraçaram o rápido desafio. Parte da produção emergente de Minas abre diálogo com reconhecidos e importantes artistas como o argentino Leon Ferrari [1920-2013], o ítalo-brasileiro Lorenzato [1900-1995], o mineiro Farnese de Andrade [1900-1996] e o questionador Nelson Leirner [1932-] sobre a destruição e reconstrução do eu, do lugar, da cidade, da memória, da política, das relações e do tempo.
Ruína é ação do tempo, sinônimo de abismo, decadência, declínio, destruição e devastação. Mas há algo de belo na ruína e é justamente a possibilidade de se resgatar a memória, reconstruir a história através de seus vestígios, refletir sobre o eu e as relações humanas. A partir da ruína se pode reconstruir algo. Reconstrução é o desafio de reunir pedaços, de começar no zero, de resgatar as memórias, de reedificar, de ter um infinito de possibilidades, formar de novo, reorganizar o espírito, a cidade, o eu e a arte.
Em Ruína, Bruno Duque “derrete” uma pintura de Piet Mondrian, descontruindo obra símbolo da história da arte e do nosso imaginário. José Luiz Pederneiras, com fotos presentes em diversas sessões, apresenta um díptico de uma fachada de prédio com apenas uma luz acesa e uma pessoa olhando a vista. Aqui, a solidão da cidade grande, do embate do homem urbano com ele mesmo, cercado de pessoas por todos os lados mas sempre sozinho. Em “Meu sangue é de pedra” a artista Sylvia Amélia apresenta um vestígio de calçada do centro da cidade de Belo Horizonte, lugar de passagem por onde acontece a vida, por onde a cidade sangra e pede socorro, essa ruína constante, se reinventa.
Manuel Carvalho propõe, “Pode tentar também? Sentar e ver a coisa acontecer?”.
Na desconstrução do eu, Marina RB com seu trabalho sobre as virtudes, apresenta a “Fé”, um livro aberto quase em branco nos braços engessados de uma mulher sem cabeça que, ao se movimentar, quebra a matéria presa em sua pele. Fé na arte, o homem como escultura em movimento, a vida como uma página em branco. Leonora Weissmann apresenta a mulher na exposição, um retrato de uma mulher sem boca, sem fala, bloqueada pela sociedade. “Time is Money” de Nelson Leirner e “Onisciente [olhos de Obama] de Eduardo Fonseca tratam da influência norte americana através da imposição de uma sociedade de consumo, da desconstrução da identidade, da cultura e de uma constante vigilância através do poder e da política. Jomar Bragança apresenta a ruína de uma fábrica abandonada impregnada de historias e de memórias sendo invadida pela natureza que pretende retomar o espaço.
A Reconstrução começa pelo “0” de Bruno Cançado, o zero que é o nada ou, mais que isso, o início de tudo. Tudo é possível! León Ferrari em “Escrita” levanta a reconstrução através da palavra. Paula Huven no trabalho Natureza s. F. Noite, apresenta a força e mistério da natureza – tal qual da mulher, a partir da sua permanente ambigüidade. A gruta (com água azul) é em Israel. A fotografia da lua foi feita pela janela da casa artista. Gustavo Maia apresenta uma obra realizada a partir de pedaços de telas descartadas de outros artistas e dele próprio, refazendo uma outra obra a partir desses vestígios. Lorenzato é a reconstrução da paisagem, da natureza, da liberdade de ser e fazer, assim como Farnese de Andrade, uma cabeça livre, serena e pronta para as dúvidas e recomeços. Desali, em um trabalho muito forte para a exposição, apresenta “Alicerce, Rua da Abolição” no qual as pinturas feitas sobre caixotes de feira reconstroem, a partir da memória do artista, as paisagens do lugar onde nasceu em Contagem, representando a libertação da vida e a construção da própria identidade.
Rosa Maria Unda Souki em suas pinturas de interior reconstrói a casa de seu pai, o lugar do afeto, a história pessoal e intransferível da família. Leonora Weissmann em “Infinitos de cor” apresenta uma série de caixas com pigmento e ampulhetas. Aqui, tudo de novo é possível, o tempo que não corre, apenas repousa sobre as possibilidades da arte e que permite que todas as coisas possam ser construídas e onde o tempo se torna infinito.