Ruína e Reconstrução

Bruno Cancado Bruno Duque Clara Valente David Magila Warley Desali Eduardo Fonseca Gustavo Biagioni Maia Hortência Abreu Humberto Guimarães João Maciel Jomar Bragança José Luiz Pederneiras Leonora Weissmann Livia Paola Gorresio Manuel Carvalho Marina RB Nairza Santana Paula Huven Randolpho Lamonier Ricardo Homen Roberto Bellini Rosa Maria Unda Souki Sylvia Amélia Thiago Alvim Valentino Fialdini
24 e 25.10.15

A Savassi é Nossa em parceria com a AM Galeria e o Quarto Amado apresenta a exposição “Ruína e Reconstrução” – experiência que pretende ampliar o convívio com a arte levando obras para containers espalhados pela cidade numa tentativa de resgatar a Savassi como lugar de encontro e de espaço para as mais diversas manifestações artísticas.

“Ruína e Reconstrução” conta com 29 artistas de variados suportes e gerações que gentilmente abraçaram o rápido desafio. Parte da produção emergente de Minas abre diálogo com reconhecidos e importantes artistas como o argentino Leon Ferrari [1920-2013], o ítalo-brasileiro Lorenzato [1900-1995], o mineiro Farnese de Andrade [1900-1996] e o questionador Nelson Leirner [1932-] sobre a destruição e reconstrução do eu, do lugar, da cidade, da memória, da política, das relações e do tempo.

Ruína é ação do tempo, sinônimo de abismo, decadência, declínio, destruição e devastação. Mas há algo de belo na ruína e é justamente a possibilidade de se resgatar a memória, reconstruir a história através de seus vestígios, refletir sobre o eu e as relações humanas. A partir da ruína se pode reconstruir algo. Reconstrução é o desafio de reunir pedaços, de começar no zero, de resgatar as memórias, de reedificar, de ter um infinito de possibilidades, formar de novo, reorganizar o espírito, a cidade, o eu e a arte.

Em Ruína, Bruno Duque “derrete” uma pintura de Piet Mondrian, descontruindo obra símbolo da história da arte e do nosso imaginário. José Luiz Pederneiras, com fotos presentes em diversas sessões, apresenta um díptico de uma fachada de prédio com apenas uma luz acesa e uma pessoa olhando a vista. Aqui, a solidão da cidade grande, do embate do homem urbano com ele mesmo, cercado de pessoas por todos os lados mas sempre sozinho. Em “Meu sangue é de pedra” a artista Sylvia Amélia apresenta um vestígio de calçada do centro da cidade de Belo Horizonte, lugar de passagem por onde acontece a vida, por onde a cidade sangra e pede socorro, essa ruína constante, se reinventa.

Manuel Carvalho propõe, “Pode tentar também? Sentar e ver a coisa acontecer?”.

Na desconstrução do eu, Marina RB com seu trabalho sobre as virtudes, apresenta a “Fé”, um livro aberto quase em branco nos braços engessados de uma mulher sem cabeça que, ao se movimentar, quebra a matéria presa em sua pele. Fé na arte, o homem como escultura em movimento, a vida como uma página em branco. Leonora Weissmann apresenta a mulher na exposição, um retrato de uma mulher sem boca, sem fala, bloqueada pela sociedade. “Time is Money” de Nelson Leirner e “Onisciente [olhos de Obama] de Eduardo Fonseca tratam da influência norte americana através da imposição de uma sociedade de consumo, da desconstrução da identidade, da cultura e de uma constante vigilância através do poder e da política. Jomar Bragança apresenta a ruína de uma fábrica abandonada impregnada de historias e de memórias sendo invadida pela natureza que pretende retomar o espaço.

A Reconstrução começa pelo “0” de Bruno Cançado, o zero que é o nada ou, mais que isso, o início de tudo. Tudo é possível! León Ferrari em “Escrita” levanta a reconstrução através da palavra. Paula Huven no trabalho Natureza s. F. Noite, apresenta a força e mistério da natureza – tal qual da mulher, a partir da sua permanente ambigüidade. A gruta (com água azul) é em Israel. A fotografia da lua foi feita pela janela da casa artista. Gustavo Maia apresenta uma obra realizada a partir de pedaços de telas descartadas de outros artistas e dele próprio, refazendo uma outra obra a partir desses vestígios. Lorenzato é a reconstrução da paisagem, da natureza, da liberdade de ser e fazer, assim como Farnese de Andrade, uma cabeça livre, serena e pronta para as dúvidas e recomeços. Desali, em um trabalho muito forte para a exposição, apresenta “Alicerce, Rua da Abolição” no qual as pinturas feitas sobre caixotes de feira reconstroem, a partir da memória do artista, as paisagens do lugar onde nasceu em Contagem, representando a libertação da vida e a construção da própria identidade.

Rosa Maria Unda Souki em suas pinturas de interior reconstrói a casa de seu pai, o lugar do afeto, a história pessoal e intransferível da família. Leonora Weissmann em “Infinitos de cor” apresenta uma série de caixas com pigmento e ampulhetas. Aqui, tudo de novo é possível, o tempo que não corre, apenas repousa sobre as possibilidades da arte e que permite que todas as coisas possam ser construídas e onde o tempo se torna infinito.