Obras inéditas e Lançamento de livro

Ricardo Homen
30.10.13 a 29.11.13

A AM Galeria de Arte tem o prazer de apresentar a exposição individual do pintor mineiro Ricardo Homen e participar do lançamento de seu primeiro livro monográfico. A exposição mostra uma série de trabalhos nunca exibidos e que representam um pouco da produção e direção do artista nos últimos anos, a volta aos trabalhos em grande formato após duas décadas e a consolidação de seu importante papel no cenário da pintura e arte brasileiras. Mostramos três pinturas em óleo sobre tela de três metros de altura e quatro conjuntos em óleo sobre papel num total de dezoito pinturas.

 

O livro de 180 páginas desenhado por Júnia Penna foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, é bilíngue [português-inglês] e oferece um rico material de pesquisa para o público e conta com imagens de trabalhos iniciais até os mais recentes, além de textos de vários críticos.

 

Ricardo Homen é um artista respeitado no circuito artístico nacional, tem um fôlego produtivo invejável, uma trajetória coerente e consistente. Passa a impressão de que não se assusta fácil. Ele experimenta, o desafio o anima, reflete sobre seu trabalho, é curioso com o mundo e tudo é fruto de seu amor pela arte, como público assíduo que é e pelo fazer.

 

Entre os anos de 1989 e 1996 fez parte do Galpão Embra – um ateliê coletivo dos artistas Júnia Penna, Solange Pessoa, Renato Madureira, Nydia Negromonte, Roberto Bethônico, Mabe Bethônico, Marconi Drummond e Fabíola Moulin. Esse espaço faz parte da história artística da cidade e foi um lugar para exposições, reflexão, experimentação e de interlocução importante para toda uma geração. Passaram por lá vários artistas convidados como Amilcar de Castro, Cristiano Rennó, Isaura Pena, José Bento, Tunga, Cao Guimarães, Nuno Ramos, Iole de Freitas e os críticos Paulo Herkenhoff, Paulo Sérgio Duarte, Rodrigo Naves, Sebastião Nunes e Lorenzo Mammi. Esse último nos entrega hoje o livro monográfico do artista.

 

Ricardo Homen fez parte desse contexto, permaneceu atuante no cenário artístico e não desistiu da pintura, seu objeto de trabalho primeiro. Nos anos 80/90 se falava por aqui sobre a morte da pintura. Os artistas experimentavam outras tecnologias, a fotografia, o vídeo, performances, trabalhos interativos, ações e instalações. Mas a pintura não morreu e Ricardo persistiu. Não foi fácil. 20 anos atrás o artista realizava obras em grandes dimensões em papel, tecido e tinta. Durante os anos seguintes se manteve ativo, realizou uma série de exposições individuais e coletivas e ainda duas curadorias importantes: Lygia Clark [1920-1988]– a primeira mostra após a morte da artista e Artur Pereira [1920-2003]. No trabalho ficou mais contido nos formatos, num processo diferente de experimentação, sobretudo da cor sobre papel, o que permitiu que ele produzisse com vigor um número imenso de pinturas, paisagens, grades, faixas, triângulos, natureza morta, retratos. Visitando o ateliê do artista encontramos pequenas pinturas com cenas cotidianas inspiradas certamente pelo seu gosto e convívio com a arte popular e com mestres como o livre e sofisticado pintor Lorenzato [1900-1995] de quem foi vizinho.

 

A prática constante e a necessidade de conhecer a arte nova e a do passado amadureceram o trabalho de Ricardo sem, no entanto, perder a inquietude e o frescor necessários à prática artística. O processo da exposição que você vê agora se iniciou há muitos meses atrás. Várias visitas ao ateliê, muita conversa e a generosidade do artista, revelaram um mundo de possibilidades. Na dificuldade de escolher o que mostrar partimos do seguinte ponto: retomar o grande formato. A arquitetura vertical da galeria permitiu que as pinturas inéditas de cerca de 3 metros de altura fossem expostas resgatando com suas potentes faixas verticais coloridas e ritmadas a força do trabalho do artista no espaço. A partir delas mais uma ou duas séries das pinturas sobre papel, pensamos. Mas não foi simples assim. O artista inquieto não se satisfez e realizou outro trabalho, montou o papel sobre chassis de madeira, retirou o vidro revelando mais intensamente as pinceladas, a matéria de tinta a óleo, a cor. Criou um novo objeto. São 14 tiras monocromáticas com as quais Ricardo fez 7 pares. A escolha das cores e a posição dos dipticos proporcionam uma vibração aberta nas laterais e que se fecha no centro. A pintura pulsa.

 

Os visitantes da exposição receberão o livro do artista que traz excelentes textos reflexivos sobre o seu trabalho. Esse que você lê agora tenta apenas registrar um pouco do processo e situar a importância e firmeza de uma produção que segue consoante com sofisticadas práticas pictóricas do mundo atual. Experimentar, fazer, recusar, desmembrar, criar séries, montar e escolher o ritmo desejado, a posição, a musicalidade, o contraste, a vibração, avançar e recuar, abrir e fechar, um vai e vem para chegar numa inexata e instigante harmonia.

 

Emmanuelle Grossi . Outubro de 2013